sábado, 2 de março de 2013

A grande notícia de Cuba

"¿Y Yoani? Como dejó claro su semana en Brasil, la base política de ella está fuera de Cuba." A buen entendedor...

Julia Sweig*

Não obstante a fixação da mídia brasileira por Yoani Sánchez, não é ela a grande notícia do momento vinda de Cuba. Não, a história real é que a sucessão em Havana agora tem um prazo, um nome e um rosto --ou rostos, para sermos precisos.

"Não é um político de tubo de ensaio" é a frase empregada por um diplomata cubano na América Latina para descrever Miguel Díaz-Canel, eleito esta semana primeiro vice-presidente de Cuba e aparente sucessor de Raúl Castro.

No domingo passado, a Assembleia Nacional Cubana ratificou o segundo e último mandato de cinco anos de Raúl Castro como presidente da República e presidente do Conselho de Estado. E elegeu ou (em alguns casos) reelegeu cinco vices.

Há muita sobreposição entre o politburo do Partido Comunista e a liderança do Conselho de Estado, com seus 31 membros, que também é diferente do Conselho de Ministros. Por mais confusas que possam ser essas estruturas, o que Raúl Castro deixou cristalinamente claro em seu discurso inaugural de 35 minutos é que ele deixará a Presidência até no máximo fevereiro de 2018 (quando terá 86 anos).

Ainda há dois outros "históricos" no primeiro escalão em Cuba, mas hoje duas mulheres na casa dos 50 anos ocupam o cargo de vice-presidente, e um homem de 68 anos e descendente de africanos é o novo presidente da Assembleia Nacional.

Como eu escrevi nesta coluna este mês, a diversidade de gênero, racial, geográfica e, sim, política --o setor privado agora ocupa um lugar à mesa, e a comunidade LGBT, também-- nunca foi tão pronunciada entre os 612 membros da Assembleia Nacional.

Dentro em breve uma nova lei vai instituir limites máximos de dois mandatos de cinco anos cada para as altas autoridades, o que significa que a era da estase e da liderança personalista em Cuba chegou ao fim.

A era pós-Castro agora tem nome e rosto. Engenheiro formado, Díaz-Canel não lutou na Serra Maestra. E tampouco é um burocrata do partido que cresceu em algum prédio de escritórios de Havana.

Ele é conhecido como fazedor, alguém que construiu sua reputação realizando coisas em campo. O secretário-geral do partido em cada província é um pouco como um governador. E, em Villa Clara e Holguin, as duas províncias de Cuba central e oriental onde Díaz-Canel ocupou esse cargo, ele ganhou fama de ser um líder das bases, alguém que põe a mão na massa.

Oh, você pergunta --ele pode ter nascido após a revolução de 1959, mas, se tem a bênção dos Castro, até que ponto pode ser um agente de reformas? E, depois que Raúl deixar a Presidência, Díaz-Canel terá a boa fé política necessária para tecer um consenso a partir dos interesses políticos em muitos casos conflitantes que a abertura política vai produzir?

Minhas respostas: 1) ele parece encarnar o espectro de continuidade-transformação que é condizente com a gestão de uma transformação estável, feita por Raúl; 2) apenas o tempo dirá.

E Yoani? Como deixou clara sua semana no Brasil, a base política dela fica fora de Cuba.

Tradução de CLARA ALLAIN


*Julia Sweig é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations, centro de estudos da política internacional dos EUA. Escreve às quartas-feiras, a cada duas semanas na versão impressa do caderno de 'Mundo'.

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